DO G1 GRANDE MINAS
FOTOS: MICHELLY ODA
A retirada de um cruzeiro da Praça Bom Jesus, em Mirabela
(MG), está causando polêmica entre a população e a Prefeitura. Os
moradores afirmam que embora a Administração Municipal afirme que a
intenção é restaurar o símbolo religioso, a maneira como ele foi
retirado do local não foi correta. Além disso, eles também alegam que
não foram comunicados, e que o padre da cidade também não recebeu nenhum
aviso.
“A cruz foi arrancada de forma cruel, com uma máquina. O cruzeiro
representa valores históricos, artísticos, culturais e principalmente
religiosos. Não tiveram consideração com ninguém, já que tudo foi feito
sem nenhum aviso”, fala a pedagoga Telma Ramos.
O cruzeiro foi colocado na praça em 2 de junho de 1921, feito de
aroeira, tinha 10 metros de altura. O local onde ele estava era
utilizado pelos fieis para a celebração de missas e novenas. Na
segunda-feira (16), funcionários da Prefeitura o derrubaram, e retiraram
com a ajuda de uma pá carregadeira.
“Minha filha me avisou que haviam tirado ele de lá, fiquei perplexa.
Estava viajando e quando cheguei fui até a praça, quando vi, pensei,
Deus do céu, quem fez isso”, conta a moradora Magna Santos.
O mirabelense Edmilson Ramos diz não acreditar que o cruzeiro será
restaurado, apesar da afirmação da Prefeitura. “Primeiramente, não foi
feito nenhum projeto para a retirada, que foi realizada sem nenhum
planejamento. A restauração é feita minuciosamente, com envolvimento de
pessoas que têm conhecimento. Esta justificativa da Prefeitura surgiu
depois da repercussão. É possível ver pedaços da cruz e da base no chão,
não existe restauração, se há destruição.”
Restauração será feita em Mirabela
Após ser retirado da praça, o cruzeiro foi levado para a casa do
marceneiro Antônio Augusto Fernandes. Apesar de estar na profissão há
mais de 40 anos, ele afirma que nunca fez a restauração de peças do
tipo, apenas de móveis. “Vamos aproveitar o máximo e manter a origem,
mas no caso do braço, vamos ter que fazer outra peça.”
Como não há fotos que retratem os detalhes do símbolo, a restauração
será feita com base na memória do marceneiro, que nasceu e cresceu em
Mirabela. De acordo com ele, serão colocadas duas braçadeiras para
sustentar a cruz. O trabalho será feito preservando o tipo de madeira.
O que diz a Prefeitura
O vice-prefeito Marcos André Ferreira explica que a restauração foi uma
reinvindicação de moradores antigos da cidade. Ele explica que o
trabalho deve durar em média 30 dias e está orçado em R$ 1 mil. Mais R$
17 mil serão utilizados na revitalização da Praça Bom Jesus; a
expectativa é de que a obra fique pronta em 90 dias.
O vice-prefeito também esclarece que o cruzeiro oferecia risco para a
população, já que a madeira estava podre ainda tinha abelhas no
interior.
“Devido ao fato de não termos leis de tombamento do patrimônio, a
conservação é responsabilidade de todos e do poder público. De repente
não vimos a maldade no sentido de retira-lo e fazer essa proteção e essa
conservação necessária, com esse símbolo do município”, afirma.
Sobre o fato de o cruzeiro estar sendo restaurado por um marceneiro,
Marcos André Ferreira defende. “Não temos restaurador, mas temos um
artesão renomado, que tem o trabalho reconhecido e a memória histórica,
já que conhece o símbolo desde o início.” Ainda segundo o vice-prefeito,
todo o serviço está sendo executado por funcionário do município, essa
é, segundo ele, uma forma de reduzir custos.
Reunião na Câmara
O presidente da Câmara de Mirabela informou que enviará um ofício para a
Prefeitura pedindo esclarecimentos. O assunto deve ser discutido na
próxima reunião, na segunda-feira (23).
Arquidiocese
A assessoria de comunicação da Arquidiocese de Montes Claros, a qual Mirabela pertence, não comentou o assunto.




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